top of page
Buscar

A juniorização das agências e o paradoxo da diversidade.

  • Foto do escritor: Texto Expresso
    Texto Expresso
  • 29 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

No cenário pós-pandêmico da publicidade, vimos a "juniorização" dos times criativos atingir seu ápice. Hoje, com essa transformação já assimilada pelo mercado, é preciso discutir seus efeitos à luz de uma ampla e honesta reflexão.


ree

Há pouco mais de três anos, enquanto a contratação de jovens das gerações Y e Z aumentava perceptivelmente nas agências de propaganda, a presença de redatores e diretores de arte de nível sênior diminuía a olhos vistos e nós, os “gatos escaldados”, olhávamos com o ar desconfiado de quem sentia que algo não estava certo. Não se tratava de uma resistência às mudanças, elas podem ser bem-vindas e até necessárias. Acontece que a experiência ensina a enxergar as diferenças entre processos orgânicos, naturais, e ações estruturadas sobre falácias, motivadas pela política de pagar o mínimo e exigir o máximo, baseadas mais em estereótipos do que em competências reais.


Hoje, encontrar um profissional 50+ na criação é quase tão raro quanto achar uma ideia original em meio a dezenas de posts #gratidão no Instagram. Teriam esses profissionais, repentinamente, perdido a capacidade de entregar bons trabalhos? É óbvio que não.

O que testemunhamos é o efeito colateral de uma onda renovadora que confunde juventude com inovação e aparência com diversidade, criando assim um ambiente paradoxalmente homogêneo, pouco estimulante a nível criativo e intelectual, e que não favorece o aprendizado constante através da troca de experiências.


Mesmo que a diversidade, em seu sentido mais amplo, fosse o verdadeiro foco dessa renovação, existem componentes econômicos e estratégicos bastante evidentes. Logicamente, precarizar o trabalho e "resetar" o sistema fica muito mais fácil quando se remove do tabuleiro as peças que conhecem as regras do jogo há mais tempo. Com isso, o mercado deixa escapar uma enorme quantidade de talento, experiência e expertises que poderiam estar gerando mais negócios e novos clientes em diversos setores, além de... lucro para as agências!


Atenção para o plot twist


O curioso é que essa nova safra de profissionais não demorou a descobrir que o glamour das agências, muitas vezes, não passa de um filtro aplicado sobre uma realidade bem menos atraente. Microgerenciamento, prazos impossíveis, jogos de poder... situações que nós, dinossauros da comunicação, enfrentávamos com a resiliência de quem já viu de tudo e passou por várias, eles escolhem simplesmente abandonar. E quem pode culpá-los? Enquanto nos orgulhávamos de virar noites criando campanhas e participando de concorrências, eles priorizam a saúde mental e a qualidade de vida. Talvez sejam até mais sábios...


O ponto é: as agências estão perdendo tanto os profissionais experientes quanto os novatos talentosos. E quando (se) decidirem reverter esse quadro, podem se surpreender. Muitos desses profissionais sêniores encontraram alternativas de trabalho que, embora menos lucrativas, oferecem muito mais satisfação e equilíbrio. Outros podem até considerar um retorno, mas as condições terão que ser bem diferentes.


O que as agências parecem não compreender é que diversidade vai muito além de uma vitrine colorida de colaboradores. Diversidade verdadeira inclui, sim, diferentes etnias, orientações sexuais e expressões de gênero. Mas também – e talvez principalmente – diversidade de experiências, de visões de mundo e, sim, de idades.


Nada contribui mais para o crescimento de um jovem profissional do que trabalhar lado a lado com colegas mais experientes. E nada renova mais as ideias de um profissional sênior do que o entusiasmo e a perspectiva fresca de um novato talentoso. É nesse encontro, nessa troca, que a magia acontece!


O mercado precisa reconhecer que errou e voltar a valorizar a verdadeira diversidade: aquela que vai além da aparência e mergulha na riqueza das experiências humanas. Só assim poderemos resgatar o que há de melhor em nossa profissão: a capacidade de unir diferentes visões para criar soluções inovadoras, eficazes, impactantes.


Não é essa a essência da publicidade? Ser um reflexo da sociedade em toda sua complexidade e diversidade? A criatividade não tem idade, mas certamente se beneficia da sabedoria que só o tempo pode trazer. Evidenciar este tema em todos os meios e oportunidades é responsabilidade de todos que desejam contribuir para uma evolução real em nosso mercado. Afinal (na publicidade e na vida), a inovação vem da união entre experiência e ousadia, recursos valiosos que não devem ser desperdiçados.



 
 
 

Comentários


© 2022 por Daniel Gandra

bottom of page